Dois beijos.

De quantos romances platonizados ou aventuras amorosas se lembraria com euforia aos 60 anos?

Quantos momentos havia protagonizado que mereceriam o gasto de energia elétrica para serem imortalizados num recôndito conjunto de bits acessíveis pela internet?

Às conquistas, com o tempo se acostumava.
As intensas paixões, transformavam-se.

Tudo que durava o bastante se tornava indistinguível da interferência de fundo do hábito.

Dois beijos.
Uma cesta.
Um nome numa lista.
Um pôr do sol.
Um telefonema.
Um banho de rio.
Duas correspondências.
Três conclusões de jogos de vido-game.
Oito shows.
Duas dúzias de cheiros e sabores.
Um blefe e um river.
Um momento com os braços abertos debaixo da chuva.

Sem ordem.

É disso que se lembrava sem esforço, sem referência.
É disso que se queria lembrar.

Nada poderia ser tão duradouro quanto um grande prazer efêmero.

- 2018 -


2 comentários:

  1. Engraçado, tenho um texto que fala do que eu lembraria ao chegar nos 65... Vai ser o próximo resgatado. Definitivamente diferente do seu ponto de vista de prazeres efêmeros e fatalmente mais romântico. Eu era jovem, cheia de som e fúria.

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    1. Mais som e mais fúria? (risos)

      Mas fico curioso para ver sua perspectiva.

      Tenho dificuldades sinceras de lembrar com nostalgia de coisas não momentâneas. De fases.

      Agora que me ocorreu que isso talvez esteja totalmente relacionado a facilidade de superar relacionamentos passados.

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